2004/05
Competição: 2ª Divisão Distrital- Zona Norte
Classificação: 11º lugar (26 jogos, 9 vitórias, 5 empates, 12 derrotas)
Pontos: 32 pontos;
Média Pontos: 1,23 pontos/jogo
Golos marcados: 33 (1,27 p/jogo)
Golos sofridos: 47 (1,81 p/jogo)
Melhores marcadores:
Equipas da competição: Lamelas, M.Beira, Santacruzense, Sernancelhe, Sul, Souselo, S.J.Pesqueira, Fornelos, Boassas, Riodades, Travanca, Arguedeira, Resende
Subiu: Lamelas
Desceu: Arguedeira, Resende
Taça:
Campeão Distrital:
Presidente: Reinaldo Gonçalves
Para a época (2004/05), por motivos políticos, devido à aproximação das eleições autárquicas, o Prof. Mário Teixeira- na altura presidente da Junta de Freguesia local-, que procurava valorizar os seus companheiros partidários, incentivou o “padeiro” Reinaldo Gonçalves a assumir a presidência do Nespereira FC. Este, com alguma relutância aceitou, mas foi buscar Álvaro Pinto, para seu “vice”, e inseriu Vítor Hugo Pinto como secretário, e Sónia Gonçalves como Tesoureira, regressando eu como segundo-secretário. Reinaldo Gonçalves era um homem de muita boa disposição, mas muito explosivo. Digamos que é um homem que se aconselha a que ninguém lhe pise os calos. Geralmente ninguém sabia quando ele estava bem-humorado ou quando ele era irônico, pois falava sempre naquela voz rouca dele, numa altura terrível...e mesmo quando chamava a atenção, que ele berrava, sempre terminava com um sorriso e rematando com um dizer engraçado. A partir daqui, o Nespereira FC começou a ressentir-se de um certo “mercenarismo” por parte de alguns jogadores, que deixaram de jogar por querer vencer, mas sim, jogavam na esperança de que essa mudança de dirigentes inexperientes, viesse a trazer algum proveito financeiro, visto que os clubes vizinhos estavam quase todos pagando salários altíssimos aos jogadores. Então, alguns dos próprios jogadores da terra, começaram a utilizar um discurso de reclamações, de que não tinham condições para cumprir, de que os outros clubes estavam todos a pagar aos seus jogadores, etc. Criando assim um certo ambiente desconfortável nos balneários. Aqui começa o ínicio da fase mercenária de alguns jogadores no Nespereira, deixando a fase ambiciosa da equipa. Muitos jogadores “atiraram o barro à parede”, tentando se beneficiar financeiramente do clube, mas a direção sempre recusou pagar. Então,esses mesmos jogadores vendo que não teriam esse beneficio, deixaram de jogar para vencer , e passaram a jogar simplesmente porque gostavam de jogar, porque o futebol estava-lhes no sangue! Aquela garra antiga, ambiciosa, lutadora acabara ali, no momento, em que esses jogadores afirmavam-se bons jogadores e tentavam conseguir salários do clube, deixando de ser jogadores para serem mercenários do futebol. Esta época marca o regresso de Jorge Ramalho e de Carlitos ao Nespereira, que estavam no GD Resende e no AD Fornelos, respetivamente. Manuel António assumiu o cargo de treinador pelo segundo ano consecutivo. O Nespereira deslocou-se a Souselo, para um jogo que marcava o regresso de Paulo Monteiro ao Nespereira, e neste “derby” concelhio, o empate foi o resultado, mas também fica registrado o ambiente quentíssimo que se viveu nas bancadas de Souselo. Com as tradicionais adeptas idosas, e fervorosas, que iam munidas de testos e panelas, fazendo um barulho ensurdecedor, e insultando os jogadores e adeptos nespereirenses a torto e direito, numa determinada altura, Alfredo Ramalho, que se encontrava mais afastado de nós, resolve responder às provocações do público, e então, só vi o guarda-redes do Souselo, Manuel “Bandalho”- que se encontrava lesionado, assistindo o jogo da bancada- atirar-se do cimo da bancada, com o pé em riste, em direção ao Alfredo Ramalho, agredindo o nosso adepto. Após alguma confusão, conseguiu-se tirar o Alfredo, do meio dos adeptos souselenses, e puxou-se para o lado dos adeptos nespereirenses. Mas mesmo assim, o coitado não teve sossego, e durante o jogo inteiro foi insultado constantemente. A determinada altura, ele decide sair do recinto, para ir ao bar beber qualquer coisa, e então, saiu pelo portão tranqüilo...só que voltou alguns minutos depois, com nítidas marcas de agressão, e em jeito meio teatral, agarrou-se às redes, e deixou-se cair no chão, para tentar chamar a atenção das forças policiais que lé estavam presentes, mas de nada adiantou. Naquele jogo, que acabou num empate a 0, os adeptos nespereirenses ainda foram agredidos com pedradas das adeptas souselenses, no final, acertando até a esposa do presidente Reinaldo Gonçalves, inclusive a filha mais nova, que esta levava no colo. Recordo-me que o ínicio da época não foi a melhor o melhor para Manuel António, e no final de um jogo, em que o Nespereira perdeu em casa, Álvaro Pinto criticou fortemente o treinador, e este acabou se demitindo. No jogo seguinte, ainda sem treinador, quem assumiu o cargo interinamente foi Vítor Andrade, no jogo em casa contra o Santacruzense. Mas já na semana seguinte, Reinaldo Gonçalves já tinha encontrado um novo treinador: Joaquim Jorge. Joaquim Jorge foi um jogador moçambicano do Vitória de Guimarães, emprestado pelo FC Porto, na década de 60, que atuava na posição de defesa-central. Estava em Penafiel, e assim, foi contratado para assumir o cargo de treinador. O seu primeiro jogo pelo Nespereira, foi contra o Boassas, no Campo do Facho, em que o Nespereira perdeu 3-0, com o regresso de Rui Teles a titularidade, após 3 épocas sem aparecer como titular. A passagem de Joaquim Jorge não foi das mais felizes, trazendo apenas uma coisa boa, na altura: Helder! Helder era um jogador do Paredes, que estava vindo de uma longa paragem por lesão. Então chegou aquele jogador que Joaquim Jorge definia como “espetacular”. Helder era um médio, muito tímido, ligeiramente gago, e bastante humilde. As suas mãos bastante rudes, todas calejadas, denunciavam a dificuldade de vida que tinha no dia-a-dia, trabalhando na Construção Civil. Nesta altura, o Nespereira atravessava uma péssima fase, estando a lutar pela manutenção na 2ª Divisão Distrital, e atravessando uma crise de resultados, com Joaquim Jorge. A inserção de Helder veio a dar novo alento à equipa. Mas num sábado de tarde, eu, que morava nos Vales, com Patrícia, minha ex-companheira, resolvemos- também incentivados pelo meu irmão- organizar uma pequena festa de noite. Pouco a pouco, foram-se juntando em minha sala, muitas amigas, e na cozinha, à volta da lareira, estavam os rapazes- alguns jogadores também- que se divertiam a conversar alegramente, sempre com cerveja ou vinho a acompanhar.Nessa noite, a festa acabou às 7h30 da manhã! No dia seguinte, um domingo, o Nespereira recebia em casa o Arguedeira, e aí, nesse dia, apesar de alguns jogadores estarem ressacados,o Nespereira voltou a fazer uma exibição de luxo, goleando o adversário, por 5-1, num jogo em que o público voltou a despertar ânimo. A posição do Nespereira era delicada na classificação, dependendo do último jogo, a permanência ou não na 2ª Divisão. O último jogo era com o Sernancelhe, em casa, e o Nespereira necessitava ganhar para garantir a permanência, visto que o Arguedeira receberia o Resende, que era o último classificado. Sabiamos que havia muito jogo de bastidores, e que o Arguedeira teria oferecido um prémio ao Sernancelhe para estes vencerem em Nespereira. O jogo foi muito nervoso, e muito disputado, mas os golos não apareciam, e chegou-se ao intervalo com 0-0. Na segunda parte, o Nespereira marcou o 1-0, logo no ínicio da segunda parte, através de Nuno Cardoso. Mas, passados 2 minutos, num livre, o Sernancelhe empata o jogo, e festeja efusivamente o golo. O Nespereira começou a carregar cada vez mais sobre o Sernancelhe, que empatado, se meteu na defesa, inviabilizando todos os ataques, recorrendo muitas vezes às faltas. O público nespereirense começava a ficar nervoso, todo em pé, esperando uma atitude vitoriosa. O jornalista da Rádio Lafões me ligava, e sempre me ia pondo a par dos resultados, inclusive o do Arguedeira, que ganhava. Num determinado lance, Carlitos se dirige a nós, e, perguntou-nos quanto tempo faltava para o final. Hernâni, que assistia ao jogo, ansioso também, respondeu que faltavam 5 minutos. Carlitos, correu para a área adversária, incentivando os jogadores a pressionarem mais. Aos 90’, o Nespereira estava na 3ª Divisão, e para piorar a situação, já em tempo de descontos, Joaquim Jorge resolve tirar Rui Teles, para pôr Paulo Sérgio, passando Helder para lateralesquerdo, revoltando imenso o público presente, e Rui Teles que não entendeu o porque de substituir, estando em desvantagem e quando não havia tempo para queimar. O povo todo apreensivo esperava uma reação, quando o Nespereira ganha um pontapé de canto, e nesse pontapé de canto, aos 95’, Carlitos cabeceia e marca o 2-1, provocando uma explosão de alegria no Isidro Semblano. No final, o Nespereira festejava a permanência na 2ª Divisão. Mas esta época fica marcada pelo processo instaurado ao presidente do Nespereira FC, Reinaldo Gonçalves, pela Justiça e pela AF Viseu, por alegada agressão que o árbitro do jogo Boassas- Nespereira, João Cunha, acusou e se queixou judicialmente, alegando que o presidente o terá abordado na estrada que liga Boassas a Tendais, e aí, o terá agredido, arrastando este processo por mais de um ano. Algum tempo depois, o árbitro João Cunha, foi apanhado num esquema de corrupção, tendo sido pego após um jogo, a receber dinheiro de dirigentes do Sp.Lamego. Foi preso e acusado junto com Fernando Dias, por corrupção, pela Policia Judiciária. A quebra entre Reinaldo Gonçalves e Álvaro Pinto, foi outro dos episódios que marcaram a época desportiva, porque dentro da Comissão Administrativa parecia haver duas facções: a facção de Vila Chã e a facção da Vista Alegre, porque o motivo da discórdia entre os dois, nunca vieram de discussões abertas e claras, mas sim, de comentários “venenosos” que ambos eram vitimas, porque havia gente tendenciosa que ia falar mal de Álvaro Pinto para Reinaldo Gonçalves, e vice-versa, criando uma relação algo “gelada” entre os dois, que nunca discutiram. A única coisa que se notou foi o desinteresse repentino de Álvaro Pinto, que deixou de aparecer às reuniões e apenas ia ver os jogos.